Brasileira fica longe de seu melhor na maratona olímpica
05/08/12 12:18Adriana Aparecida da Silva, a única representante brasileira na maratona olímpica feminina, disputada hoje sob chuva, não conseguiu atingir seu objetivo na prova (foto Alaor Filho/Agif/COB). Nem de longe beliscou o número que com que vinha sonhando, ficando até mesmo bem longe de sua melhor marca.
Ela completou a prova em 2h33min15, na 47ª posição, fazendo uma corrida que começou razoavelmente bem ritmada, mas decaiu um pouco na segunda parte. Nos quilômetros finais, ela conseguiu apertar um pouquinho, mas, de modo geral, manteve o equilíbrio no belo circuito londrino (foto AFP).
Nunca esteve, porém, com ritmo adequado para buscar a sonhada marca de 2h27, que seria novo recorde sul-americano. Ao completar os primeiros cinco quilômetros, ainda está com média próxima à necessária, mas já um pouco acima. Depois…
O fato, porém, de se manter equilibrada, contribuiu para que conseguisse galgar posições. Seu pior posto relativo, 71º lugar, foi exatamente lá no início, quando todo mundo saiu às ganha. Oscilou até a metade e, depois, só melhorou.
O que, volto a dizer, indica o trabalho de uma corredora consciente de suas forças (e fraquezas, por suposto), com maturidade suficiente para não se deixar abalar por eventuais problemas que interfiram no que havia sido planejado.
De qualquer forma, imagino que ela tenha completado a prova com gosto amargo de não ter conseguido o que pretendia. Essas 2h33min15 são quatro minutos mais lentas que sua marca de classificação. Indicam que Adriana ainda tem muito a trabalhar.
Dito isso, vamos à prova, que terminou em festa de rua, coisa que até agora não tinha visto nos Jogos de Londres: representantes da comunidade etíope caíram no asfalto, com bandeirinhas, braços ao alto, dedinho em riste, para dançar e cantar a vitória da compatriota Tiki Gelana (foto Reuters), 24, que estabeleceu novo recorde olímpico para a prova.
Assim, como a queniana Mary Keitany, Gelana veio para Londres credenciada por uma vitória com sub2h19 (Roterdã, abril). Diferentemente dela, porém, não pode ser ajudada por suas colegas de equipe ao longo dos momentos decisivos da prova.
Mesmo assim, corredora solitária contra a armada queniana –que foi se estiolando conforme a prova ficava mais rápida e os quilômetros, mais doloridos–, soube defender com brio as cores de seu país.
Depois do km 36, quando as coisas começaram efetivamente a ficar sérias, ela fez algumas tentativas de desgarrar. A queniana perseguidora, Priscah Jeptoo, sempre dava o troco, mas também dava demonstração de esforço.
Não é para menos, pois Jeptoo, cujo estilo meio desengonçado de correr, com as pernas abrindo para os lados, você lembra da última São Silvestre, funcionou durante a maior parte do tempo como garçom para Keitany. Enquanto a favorita corria impávida, Jeptoo se dirigia à mesa de hidratação, pegava as garrafinhas das duas e, então, tinha de dar uma estilingada para alcançar Keitany e lhe fornecer o preciso líquido.
Coisa pouca, talvez, mas que pode ter pesado na hora em que, no km 41, Gelana fez seu ataque decisivo. Partiu para a vitória, da qual não estava certa, como indicaram as várias vezes em que olhou para trás, para evitar qualquer ataque de surpresa. Jeptoo bem que tentou, mas ficou no quase.
Gelana terminou em 2h23min07, o que não é exatamente uma grande marca comparada com os tempos de vitória nas maratonas competitivas deste ano, mas é o novo recorde olímpico. Cortou sete segundos do tempo cravado pela japonesa Naoko Takahashi em Sydney e inscreve seu nome nos anais olímpicos.
A Priscah Jeptoo restou a prata, enquanto o bronze ficou com a surpreendente Tatyana Petrova Arkhipova, 29, corredora russa que permaneceu a maior parte do tempo na rabeira do primeiro pelotão.
Ex-corredora dos 3.000 com obstáculos, em que ficou em quarto lugar em Pequim-2008, vem se dedicando com sucesso às maratonas, aproveitando a força e a velocidade construídas naquela duríssima prova.
Começou a mostrar as garras depois da meia, passando o km 25 entre as dez primeiras, chegando no mais restrito grupo de seis líderes no km 30, passando o 35 em primeiro lugar e o 40 em quarto, mas grudadinha nas outras três concorrentes (acima, as quatro rivais; note a passada diferente da Jeptoo, foto Reuters).
Até então, estava com elas a Keitany, que não resistiu exatamente na hora de chegar, acabando no quarto posto. Outra cujo retrospecto indicava boas chances era a etíope Dibaba, que passou o km 35 em sexto lugar, caiu para 17º no km 40 e para 23º no final…
Saindo das ponteiras, gostei muito da corrida da portuguesa Jessica Augusto , que completou em um belo sétimo lugar, atrás da chinesa Xiaolin Zhu, que foi bronze em Pequim-2008.
Ambas foram superadas pela ucraniana Tetyana Gamera-Shmyrko, que passou o km 35 no 13º posto e partiu para engolir asfalto com sofreguidão até a chegada com novo recorde nacional: 2h24min32.
Finalmente, há que se destacar a presença da peruana Ines Merchor, que é fortinha para uma maratonista (55 kg em 1,58 m). Ela estreou na maratona neste ano, conseguindo em março, em Seul, o tempo que a qualificou para Londres (2h30min04, então recorde nacional).
Ela bateu sua própria marca, fechando em 2h28min54, tempo de fazer inveja a todas as brasileiras. Além disso, correu com bravura e galhardia, lutando para ficar no primeiro pelotão –na meia maratona, tinha o terceiro posto. Chegou na 25ª posição, com novo recorde nacional.