Salazar faz ouro e prata nos 10.000 m masculino
04/08/12 18:17Numa prova sensacional, nenhuma país conseguiu a dobradinha que o ex-campeão da maratona de Nova York Alberto Salazar pode festejar: dois pupilos seus, corredores que treinam sob sua orientação no Oregon, conquistaram ouro e prata em uma prova que mais pareceu tática de guerra, jogo de xadrez do que corrida.
O britânico Mo Farah (nascido na Somália) foi o campeão, seguido pelo norte-americano Galen Rupp, que Salazar considera a estrela mais brilhantes entre os atletas do país. Só então chegou o etíope Tariku Bekele, irmão do grande Kenenisa e campeão da última São Silvestre, abaixo de chuva.
As marcas foram as seguintes: 27min30s42 para Farah, 27min30s90 para Rupp e 27min31s43 para o Bekele mais jovem.
Os vencedores devem ter seguido à risca as ordens de Salazar, que vem se caracterizando hoje em dia por orientar sua turma a guardar as forças para só estilingar na hora do vamos ver. Farah e Rupp correram todo o tempo perto um do outro, mais para o meio do pelotão, e sempre se comunicando por olhares e sinais de cabeça.
Enquanto isso, lá na frente, Zersenay Tadese, da Eritreia, tentava fugir, garantir a ponta de qualquer jeito, com a ajuda de seus dois compatriotas. A esquadra queniana também atuou bem coordenada, mas perdeu cedo um dos seus integrantes, que sofreu um pisão e uma queda e acabou indo mais cedo para o chuveiro.
O time etíope parecia tranquilo, conversando entre si, organizando ataques, escapadas e defesas. A partir da marca dos 8.000 m, a coisa começou a ganhar ritmo alucinante. Mo Farah saiu da zona de conforto e deu uma chegada até a frente, enquanto Rupp apenas avançava um pouquinho pelo meio do pelotão.
Cada contendor foi se colocando, tentando enfraquecer os rivais nas voltas restantes. Quatro delas passaram nesse troca-troca de posições até que soou o sino.
Farah puxou Rupp e os dois desafiaram os etíopes metro a metro até a última curva.
Na reta final, as táticas vão pro saco, é hora de correr. E foi então que o britânico se mandou e o loirinho seguiu na sua balada. Salazar, depois de depressão, ataque cardíaco, recuperação, conflito com atletas, conquista enfim as medalhas olímpicas que nunca conseguiu alcançar como atleta.
Não tinha hábito se assistir prova de 10000m em pista até um amigo ter me indicado assistir a final das Olimpiadas de 84 entre Paul Tergat e Haille (disponível no Youtube). Desde então acho essa talvez a mais legal de assistir do atletismo e acompanho todas que posso. É estrategia, trabalho de equipe para um final sempre kamikaze. Sensacional a de hoje. Alberto Salazar que marcou história como corredor mostrando o quanto é bom como treinador.
Impressionante o jogo dos etíopes para que o Bekele se mantivesse no pelotão e tentasse alguma coisa na última volta. Mas, infelizmente, ele não é mais o mesmo!