Peça faz da maratona metáfora da vida
13/07/12 14:01Os dois atores ficam quase o tempo todo correndo no pequeno tabuleiro vazio, onde apenas uma parede serve como definidora de espaço e tela para as imagens que se sucedem em ritmo às vezes lento, às vezes alucinante: paisagens azuladas, noite, dia, cenas urbanas, luzes.
Trata-se da peça “Maratona de Nova York”, em cartaz em São Paulo até o final do mês (fotos Zé Carlos Barreta/Folhapress).
O título pode enganar eventuais desavisados, então conto desde já: a história não tratada da fenomenal corrida nos Estados Unidos. A maior maratona do mundo é o sonho de consumo, objetivo dos dois amigos que se encontram numa noite para treinar e deixam que a gente, a plateia, bisbilhote sua conversa, como se escutássemos por detrás da porta de quarto fechado.
Eles falam as bobagens que corredor diz durante os treinos. Reclamam do esforço, dizem que vão desistir, se provocam. Largam palavrões e algumas impropriedades misóginas –coisa que o leitor deste blog certamente não faz–, contam piadas em que os alvos são eles mesmos.
Fracassam, caem e se recuperam como fazemos todos no dia a dia. “Não é uma questão de ganhar, de perder, mas de superação, uma metáfora para outra coisa que está por baixo. Maratona é uma metáfora perfeita para a vida, desde o soldado que correu de Maratona a Atenas e depois morreu”, me disse Bel Kutner, a diretora da peça, depois de um ensaio a poucos dias da estreia.
Também atriz, atualmente em ação na Globo, na novela “Gabriela”, Bel diz que corre “muito sem-vergonha”. Especifica: “Faço esteira um pouquinho”.
Já os atores têm um pouco mais de contato com o tema em questão: Anderson Muller corre há mais de 20 anos e já completou duas maratonas; Raoni Carneiro (à esq. nas fotos) já fez algumas meias maratonas, mas hoje se dedica ao bootcamp, aulas de academia que combinam exercícios em solo e na água, saltos e escaladas, com o objetivo de levar o corpo à exaustão.
Os dois, aliás, terminam a peça exaustos, empapados de suor. Calculam que correm pelo menos seis quilômetros durante o espetáculo, em que vida e morte estão sempre presentes.
Eles recontam, por sinal, a história do soldado ateniense que inspirou a criação da maratona. Dizem, porém, que ele correu 42 quilômetros, o que deixou alguns observadores mais detalhistas loucos para corrigir. Calma, pessoal, trata-se de licença poética. O que importa é o esforço, o feito.
A peça tem um certo tom de comédia e, de fato, apresenta cenas engraçadas, em que a gente ri de si mesmo, lembrando que alguma vez também já fez alguma bobagem como aquela. Mas, acima de tudo, é uma reflexão corrida sobre os sonhos e a vida. Tal e qual fazemos a cada treino.
A peça está em cartaz no Teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295; tel. 3864-4513), de sexta a domingo até o próximo dia 29.
Que otima dica. Vou passar o proximo fds em Sampa e vou aproveitar para conferi.