Aos 83 anos, lenda das pistas carrega tocha olímpica
11/07/12 10:18O primeiro homem da história a correr a milha em menos de quatro minutos voltou à pista onde, há 58 anos, conquistou seu feito histórico. Entre jovens entusiasmados e sob aplausos da galera que tudo acompanhava da arquibancada, sir Roger Bannister carregou por alguns metros a tocha olímpica no estádio de Oxford, na Grã-Bretanha.
Emocionado, Bannister, de 83 anos, caminhou por cerca de 30 metros levando a tocha na mão esquerda, que manteve sempre erguida (foto AP). Sorrindo, disse depois: “De certa forma, estou de volta para o meu esporte. Eu levei dez anos treinando para romper a barreira dos quatro minutos na milha (1.609,34 m)”.
No dia 6 de maio de 1954, ele cravou 3min59.4 na pista que hoje leva seu nome. E por pouco a marca não saiu: “O tempo estava tão ruim naquele dia que eu quase desisti de fazer a tentativa”, revelou ele. Completou: “Ainda bem que eu tentei, porque talvez não viesse a ter outra oportunidade para tentar a marca”.
De fato, uma conjuminância de fatores contribuiu para o sucesso, a começar pelos fracassos de Bannister na Olimpíada. Nos Jogos de Helsinque-1952, nem sequer conquistou uma medalha, terminando em quarto lugar nos 1.500 m.
Talvez, se tivesse levado o ouro, iria pensar em se aposentar. Acabou treinando forte por mais dois anos, focado na milha, em que os quatro minutos pareciam então ser uma barreira intransponível.
Os principais candidatos para quebrar o tabu eram o australiano John Landy e o americano Wes Santee, que já tinham chegado a 4min02. Parecia ser apenas questão de tempo para que um deles entrasse na história.
Bannister deu azar na escolha do dia de sua tentativa: estava frio, chuvoso e ventava bastante durante o desafio entre a turma da Universidade de Oxford e o pessoal da União de Atletismo Amador.
O então garotão manteve a fleuma britânica, deu tempo ao tempo, pensando no que fazer. Aproximava-se a hora da disputa; uma bandeira britânica que tremulava no alto de uma igreja passou a balançar menos vigorosamente. O vento amainava, era o dia e a hora de correr como nunca.
Seus compatriotas Chris Brasher e Chris Chataway serviram de coelhos à perfeição. Brasher rodou a primeira volta em 58s, fechando a primeira metade da milha em 1min58. Chataway assumiu a ponta e fechou a passagem da terceira volta em 3min01. Tudo certo, agora a bola estava nos pés de Bannister, que precisava completar a última volta em menos de 59s. Foi o que fez, como registra a história.
“Quebrar a barreira dos quatro minutos na milha foi uma conquista marcante na história de nosso esporte. Abriu caminho para o que fizemos nos final dos anos 1970 e início dos anos 1980”, comenta outra lenda do atletismo britânico, Sebastian Coe, que foi recordista da milha e conquistou dois ouros olímpicos nos 1.500 m.
Apesar de tão incensada, a marca de Bannister não durou nem dois meses. Seis semanas depois, Landy cravou 3min57.9 em Turku, Finlândia. O recorde atual é de 3min43.13, estabelecido pelo marroquino Hicham El Guerrouj em 1999.
Feitos heroicos como o de Bannister possuem significado muito maior do que a quebra de um paradigma de tempo/distância, pois, invariavelmente, suscitam incríveis histórias subjacentes, de superação, esforço e dedicação, revelando que, em todas as áreas de atividade humana – inclusive nas prosaicas tarefas cotidianas -, é possível (e imprescindível) buscar ir além.
Lenda das pistas e não lendas das pistas.