Lições da vitória brasileira na maratona de São Paulo
17/06/12 14:57Depois de quatro anos, um brasileiro voltou a vencer a maratona de São Paulo. O campeão pan-americano da maratona, Solonei Rocha, ex-gari, fez uma prova tática, não sucumbiu à veleidade de mostrar serviço antes do tempo e atacou pouco depois do km 30 para não mais deixar a peteca cair.
No feminino, a sensacional queniana Rumokol Chepkanan pairou sobre o asfalto, voando baixo para quebrar o recorde da prova por quase cinco minutos: fechou em 2h31min31, contra o tempo de 2h36min01 cravado no ano passado pela marroquina Samira Raif. A melhor brasileira foi Marily dos Santos, que chegou em quinto lugar.
Dito isso, dá para assuntar um pouco a respeito dos resultados. Cá entre nós, para mim a prova deixou evidente uma avaliação que eu fazia: Solonei só não está seleção brasileira que vai para a maratona olímpica porque errou na tática de corrida quando tentou o índice, na maratona de Londres.
Como se sabe a terceira vaga olímpica foi conquistada por Franck Caldeira, que registrou 2h12min03 em Milão, Itália.
Ontem, Solonei correu um percurso bem mais complicado (ainda que Pádua não seja totalmente plana e que tenha também suas dificuldades) em 2h12min25. Sendo que, nos últimos cem metros, esqueceu a corrida e foi buscar uma bandeira, seguiu festejando com o público, em êxtase.
Ou seja, poderia até ter sido mais rápido em São Paulo, onde ele correu o tempo todo no pelotão. Como disse, fugiu no km 32 e, lá pelo km 38, pareceu começar a sentir um pouco o esforço, olhando para trás para ver como estava a concorrência.
Não existia. O queniano, que havia também ficado no pelotão todo o tempo, havia muito apresentava sinais de cansaço. Acabou sendo ultrapassado no km final e chegou se arrastando para cruzar em terceiro. Caiu ao chão e teve de ser atendido pela equipe médica; por sinal, achei que os caras demoraram um pouco para perceber o estado do cara. Foi questão de segundos, é verdade, mas podem fazer diferença.
Voltando ao Solonei. Para mim, o resultado de hoje deixa claro que ele correu errado a prova de Londres, em abril, quando tentava o índice. Foi com muita sede ao pote, cruzou a meia com 1h05min42 e daí desandou… Terminou com 2h14 e caquerada.
É uma pena, pois, como demonstrou hoje, é um cara lutador, que não renega suas origens e ainda tem chão no mundo da maratona.
“Essa é a história de um brasileiro, tenho orgulho do meu passado, sou maratonista por conta disso e quero mandar um abraço para todos os coletores de lixo do Brasil”, disse ele depois da conquista.
A transmissão da prova pela Globo teve várias falhas. Antes das críticas, porém, é bom deixar claro que é raro, no mundo, ter uma maratona transmitida por emissora de TV aberta, ainda mais uma prova em que não há grandes estrelas locais nem nomões internacionais.
A transmissão começou depois de a prova ter sido iniciada. Ficaram um tempão recuperando as imagens etc. e tal.
De novo, não mostraram o segundo pelotão. O narrador deve ter feito um grande esforço de reportagem, ao final da prova feminina, para descobrir que Marily dos Santos era a brasileira mais bem colocada.
Aliás, o pessoal da geração de caracteres cometeu erros seguidos ao colocar na tela os nomes dos vencedores; por duas vezes, colocaram nomes de homens na lista das primeiras colocadas no feminino, até que simplesmente desistiram de apresentar o ranking do primeiro ao quinto.
Pelo que pude perceber, o narrador e o comentarista têm da prova praticamente a mesma visão e as mesmas informações que nós, o público, recebemos. Isso, para mim, é o mais lamentável: se eles não recebem dados da reportagem, como vão poder fazer uma transmissão bem informada?
Bom, isso não justifica erros outros, tal como o de dizer que o clima ideal para correr maratona era com temperatura de 17 graus C a 21 graus C; o comentarista, especialista no tema, imediatamente corrigiu essa informação, dizendo que a temperatura ideal para recordes está entre 12 graus C e 17 graus C (mais ou menos).
Os dois bateram cabeça, porém, quando um deles deu uma informação errada sobre qual é o recorde da maratona. Como o dado ficou no ar, e não foi corrigido, então aqui vai a informação correta.
O recorde mundial da maratona NÃO é 2h03min42, mas sim 2h03min38. Ele foi estabelecido por Patrick Makau em Berlim no ano passado; a outra marca é do também queniano Wilson Kipsang e foi registrada em Frankfurt.
De qualquer forma, como disse antes, acho que é muito bom uma emissora de TV aberta transmitir uma maratona. Tomara que outras emissoras –algumas já transmitindo provas do exterior—também despertem para o tema.
Uma prova com as dimensões e números da Maratona Internacional de São Paulo exige nada menos que muita organização. Pena que não foi essa a minha constatação. Antes da largada, filas enormes nos banheiros químicos e pouca infraestrutura: fiquei 1h20 na fila. Na largada, o tradicional atraso. Durante o percurso, muitos postos de hidratação estavam desabastecidos, apesar dos pacotes fechados atrás das mesas. Porém, sendo justa, outros pontos foram muito bons: as bandas em lugares estratégicos do percurso e a entrega de mexerica perto dos kms finais. Esta é uma prova maravilhosa, com um percurso desafiador e com muita visibilidade para o turismo esportivo em São Paulo, mas que perde seu brilho com os pequenos detalhes que fazem toda diferença para os corredores amadores.
Aparentemente o comentarista da Globo, embora evidentemente conheça o esporte, não se prepara para a transmissão. Não repassa ou vai acompanhado de dados básicos, em outras transmissões já percebi que não estuda o percurso e fica meio perdido em relação ao local onde se desenrola a prova… um pouco de desleixo, que foge do chamado “padrão Globo de qualidade”. O Boni, se estivesse por lá e soubesse disso, já tinha carcado todo mundo… quanto ao Solonei na Maratona de Londres, em entrevista ele disse que passou a meia pensando no índice, mas que quebrou, a prova tava com muito vento, difícil de correr e por isso não deu.
Tambem Vi a cena relatada e o caso me pareceu muito pior …os enfermeiros estavam entubando,
, o desfibrilador aparentemente ja estava sendo usado. Passei duas vezes pela pessoa no intervalo de 5 minutos. Ele estava cianotico . Foi muito angustiante. Será mesmo que ele se recuperou ?
Essa é a informação que recebi da assessoria de imprensa da prova
Rodolfo, você não acha que esse tipo de caso deveria ser mais noticiado para evitar que pessoas despreparadas se arriscassem a correr ? Claro que não sabemos qual foi o caso, pode ser que a pessoa mesmo com exames em dia tenham algum problema, mas é necessário muito esclarecimento a favor da corrida responsável. Bom, esperemos que tudo tenha dado certo mesmo.
Pois é, Rodolfo. Tb tive essa percepção do queniano que chegou em 3o e desabou: a organização demorou demais p/ atendê-lo. O erro do recorde da maratona tb saquei na hora, e demais erros q vc citou aqui eu acho q a Globo poderia revê-los p/ não cometê-los de novo no ano q vem; quem sabe dando a seus repórteres a tarefa de noticiar todos os dados da prova, e não apenas os “famosos” que corriam (e isso não é uma crítica, haja vista ser um expediente usado p/ atrair leigos num esporte q quase nunca é transmitido em tv aberta). Por fim, foi emocionante ver a chegada e o depoimento do Solonei ao fim da prova; ele merece os parabéns mesmo! Abc, Augusto.
Não foi somente o segundo colocado quem desabou.
Qdo passei entre o km 14 e o 15 (1h10m de prova + -), havia um corredor caído. Me preocupei muito pois ele estava recebendo massagem cardíaca dos PMs que o socorriam.
Vc tem alguma notícia deste rapaz?
Eu recebi informação sobre esse caso de outros colegas que viram o corredor caído. Consultei a assessoria de imprensa da prova. Eles afirmaram que todos os atletas foram atendidos e que se recuperaram depois.