Garotão brasileiro desafia a Comrades
15/06/12 09:47Aos 25 anos, o veterinário André Luís Dutra Ferreira começou a correr. Convocado pela mãe para participar de uma corrida de 5 km, há dois anos, tratou de começar a treinar pelas ruas de Belo Horizonte, onde mora.
Foi um desastre. O primeiro percurso de 5 km foi completado em 47min30, o que só serviu para aumentar o desafio. André meteu a faca nos dentes e continuou treinando; de repente, se viu apaixonado, entusiasmando-se com os resultados. Quase sem pensar, depois de cerca de um ano de corrida, estava inscrito para a primeira maratona.
“Mal acreditava na loucura que tinha acabado de fazer”, diz ele. “Como um rapaz de 26 anos que vinha de dez anos de puros sedentarismo e vida regada a muita festas, má alimentação e altíssimas ingestões de bebidas alcoólicas, iria a se atrever a encarar uma coisa tão grande e temida?”
O fato é que encarou. Terminou se arrastando e já doidão pela nova aventura. Pesquisou, pesquisou e descobriu a Comrades, a mais populosa ultramaratona do mundo, ícone maior das provas de resistência. Com o sonho no alvo, tratou de buscar ajuda para a conquista. Passou a ser orientado por um treinador especialista em preparar corredores para a Comrades, o Branca.
No mês passado, depois de apenas dois anos praticando corrida, lá estava ele na África do Sul. Aos 27 anos, tentaria ser, ao que sabia então, o mais jovem brasileiro a completar a prova. Se é que conseguisse chegar ao final dos quase 90 quilômetros de subidas e descidas no calorão sul-africano.
A partir daqui, deixo vocês com o relato que André Luís mandou para este blog. Obrigado, André, e boas provas.
“Lá estava eu na largada, acompanhado de pessoas brilhantes, o Branca, a Érika, a Maria Eugênia (grande exemplo, uma mulher com mais de 60 anos, completando sua quinta Comrades) e a Cecília, todos da equipe.
“De repente, começa a ser cantada a famosa Shosholoza, espécie de segundo hino nacional da África do Sul, e soa o canto do galo. Todos largamos na expectativa de concluir a prova, mas sem a certeza de chegar.
“Como nunca tinha corrido uma ultra antes, fiquei acompanhando o pessoal o máximo que pude para tentar não errar muito no ritmo da prova. Acompanhei a Cecília ate o km 5, quando me senti muito bem e resolvi acelerar: tinha treinado para fazer em 9h30 e iria buscar esse tempo. A corrida ia bem, muita gente incentivando, mesmo sendo às 5h30 da manhã. Cheguei à metade da prova, 45 km, com 4h35, dentro do previsto.
“Foi quando me deu uma louca e resolvi reduzir o ritmo e curtir a prova. Nunca antes, em lugar algum, tinha presenciado algo tão contagiante, empolgante como a Comrades. Não sei como descrever, mas vou tentar contar o que vi.
“Nos 89 km de asfalto, a população incentiva a gente o tempo todo, todos querendo de alguma forma ajudar os corredores, ora cantando, levando comida, colocando som, fazendo churrasco, tocando com suas bandas, ajudando a entregar água e isotônico, preparando alimentos que eles acham importantes, como pão, pasta de amendoim, frutas, chocolates, sal. Coreografias ensaiadas na beirada do asfalto.
“Isso acontece o tempo todo, nas beiras de rodovias, mesmo nas mais afastadas de cidades… Meninos disputam a tapas por um toque na mão de corredores. Varias escolas colocam seus alunos devidamente uniformizados para aplaudir os corredores. Times de futebol prestigiam os corredores. Corredores se ajudam e trocam experiências durante a corrida. Veteranos da Comrades que de alguma forma não puderam correr ficam dando apoio e dicas para a prova.
“Antes de ir para a Comrades, ficava me questionando por que o Nato Amaral (corredor de São Paulo) tinha feito essa prova por dez anos consecutivos. Afinal, poderia ter feito outras provas ao redor do mundo e conhecido mais pessoas, mais lugares, cheguei até a julgá-lo como doido. Mas, depois que iniciei a corrida, vi que ele estava certo o tempo todo e que cada vez em que se corre a Comrades ela é única e maravilhosa.
“Eu me sentia como se fosse o primeiro colocado da prova, único, especial. Resolvi reduzir o ritmo e tentar de alguma forma agradecer aquelas pessoas que estavam ali nos incentivando tanto desde as 4h30 da manhã, algumas inclusive acampam na beirada da rodovia desde um dia antes.
“A parte boa nisso tudo é que o mundo ama o brasileiro e, ao verem a bandeira estampada na camisa, gritavam o nome deste país fabuloso, o Brasil. Rapidamente respondia, levantava os braços, o que gerava outra onde de gritos, e por assimem diante. Alguns pediam samba, eu sambava, outros gritavam sobre futebol, e nesse tema houve de tudo, de Ronaldo à Copa do Mundo, e eu respondia imitando um drible. Outros levantavam e pediam abraços, que eram dados.
“Fiquei surpreso, pois como uma pessoa iria querer abraçar um corredor, fedorento, sujo e suado, mas a reposta estava ali mesmo, pelo reconhecimento da dedicação que cada corredor que está ali teve de fazer para tentar completar a prova, e assim completei a Comrades 2012 em 11h01. Sei que poderia ter feito em um tempo bem menor, mas será que a prova seria a mesma? Não me arrependo de ter feito isso, pelo contrário, me sinto uma pessoa melhor, pois consegui, de uma forma muito prazerosa, absorver tanta energia positiva para continuar nessa batalha.
“Saí da África com uma certeza: vou voltar no ano que vem.”
PS.: A corredora Solange Pereira escreveu dizendo que ela tinha 27 anos no ano passado, quando fez a Comrades. Ela é de abril, André é de janeiro. Então, de fato, Solange, que fechou a prova em 11h27min07, é a mais jovem brasileira a completar a Comrades, segundo as informações que tenho até agora. O André é o caçula entre os homens.
André,
não dá para não emocionar ao ler o relato de sua vivência em Comrades. Penso que nessa vida não correrei essa prova, mas agradeço por ter me proporcionado “ver” o outro lado desse desafio.
Parabéns mil vezes!!!!
Abraços.
Mcoeli
Zum Zum, nunca poderia te imaginar em tal situação há 10 anos atrás. Mas entendendo sua vontade e seu esforço, sinto orgulho por conhecer alguém como você.
Eu conheci esse doidão um pouco antes da Comrades, na casa do Dalcin. Era um jantar de massas pré Maratona da Linha Verde. O cara é uma figura, conversamos, rimos e ele falou um pouco das suas outras provas com a mesma alegria que teve nesse depoimento. Ou seja: que exemplo de pessoa que sabe aproveitar o que a vida nos dá de bom: sejam abraços suados, aplausos, até tempos maiores que o planejados, o que importa é ser feliz a cada minuto. Parabéns André por essa conquista e nos inspirar. Quem sabe um dia chego lá?
Ai, eu sou muito manteiga derretida. Fiquei toda emocionada lendo o depoimento de André. Compartilho da opinião dele que a corrida não teria sido tão boa se ele não tivesse seguido sua intuição de aproveitar aquela energia. Quanto mais eu participo de corridas, mais vejo que a sensação de bem estar proporcionada por uma prova não pode ser medida por cronômetros. Parabéns, André.
PArabens Andre, belo feito
obrigado carlyle pelo apoio e icentivo….isso e fenomenal…. e vc
obrigado carlyle pelo apoio e icentivo….isso e fenomenal…. e vc anima ano que vem????
André,
Parabéns pela sua conquista.
Você está entre os grandes.
Back-to-Back em 2013 e estarei junto com você!
Abraço,
Nato
Com certeza….vc fez muita falta lá….
Esse depoimento resume o sentimento mais verdadeiro de uma pessoa que sabe aproveitar o que a vida dá de bom. Não interessa o tempo que ele levou para terminar a prova o mais emocionante é essa experiência maravilhosa que ele teve. Parabéns.
Obrigado!!!!
Vai sair no jornal impresso?!
Correr a Comrades deve ser uma experiência inesquecível! Imagino que a sensação de superação seja única! Parabéns, André Luis! Relato emocionante! Quem sabe um dia não encaro esse desafio, como você fez!
Acho que todos são capazes de corrrer a comrades, e so se dedicar um pouco a mais que voce chega-la….
Andre Ferreira, muito mais do que a prova em si, a sua perseverança em fazer o que fez, e viver o e que viveu me dá uma ideia como foi bom tudo isso. Parabéns, é pouco. Obrigado isso sim, por compartilhar sua experiencia. Deixou a minha 6a feira melhor.
Obrigado pela atenção. Me sinto melhor em saber que tenho ajudado as pessoas a se sentirem melhor. Espero que tenha uma otima sexta-feira
Parabens pelo relato, escolha no treinador e ter finalizado a prova.
Boas Corridas
Alfredo Donadio
Hóla Rodolfo, muito legal teu blog, seguido entro mas fico com preguiça de comentar, mas depois de uma Comrades, a gente muda conceitos, rsrss, então aí segue um pouco do meu relato da Comrades, aproveito e parabenizo o André e todos que foram lá e fizeram o seu melhor.
Pois então, Comrades feita!!!!
Gurrrrisada… ufff… que dificuldade, não só pela quilometragem, 89kms, mas eram muitas, mas muitas subidas e descidas, difíceis subidas e difíceis descidas.
Em compensação, o entorno da prova e a organização é algo perfeito, contagiante e estimulante.
No dia da retirada do kit da prova, pudemos constatar uma feira grande e completa, para este tipo de evento, sem dúvida a melhor que participei até então, o André de Martini levou roupas e calçados infantis e calçados adultos, e ali mesmo corredores locais já pegaram eles, e mesmo que, ficando grandes, a gratidão e felicidade deles em poder ter um conforto maior para o dia de corrida foi muito emocionante.
No dia anterior a prova fizemos a visita ao museu da Comrades, e a uma instituição que cuida de crianças orfãs, muitas abandonadas pelos pais (geralmente portadores de aids), lá estão crianças albinas, rejeitadas pelas tribos, deficientes físicos e mentais, parte da receita da corrida e o maior suporte financeiro desta instituição provém da Comrades e da Maratona de Nova York, voltando, fomos visitar estas instituição, e quando chegamos lá estavam no pátio todas as crianças perfiladas uniformizadas… já uma emoção difícil de conter, aí eles começaram as apresentações deles, danças, cânticos, mas, quando estes começaram a cantar o Shosholoza, uma espécie de hino da Comrades, aí não teve quem não desidratou, muitas lágrimas a escorrer, logo depois o hino Africano, que paulada, e que injeção de adrenalina e ânimo, ao ver quanta sorte temos e como somos privilegiados, por nós e nossas famílias, enfim, no dia seguinte passaríamos por lá.
E aí chegou o dia, acordamos a meia noite e meia, fomos ao café, e embarcamos no ônibus, entre as centenas destes, para Pietermaritzburg, cidade onde era a largada rumo a Durban.
Antes da largada, havia um grupo de aproximadamente 100 atletas africanos, ao nosso lado, que ficaram creio que por uma hora, com seus cânticos, danças, ritmo, palmas e pisadas, contagiando e estimulando a todos, algo de arrepiar. E assim, o tempo ía passando, o calor humano amenizando a temperatura de 6 graus, 15 minutos antes todos iam tirando seus agasalhos e colocando nas cercas das baias, e famílias pobres passavam para arrecadar estas peças, pessoas extremamente felizes, mas que eram ainda maior motivo para a nossa felicidade, ajudando com tão pouco e sendo de vital importância para eles.
05:20, nervos e emoções a flor da pele, medos e dúvidas repassados, planos e estratégias a recordar, hora de mais de 17.000 pessoas a entoar, cada um do seu jeito, o Shosholoza, cântico/hino dos construtores da estrada de ferro que une as duas cidades, que canta para irem sempre em frente, rumo ao destino, passo a passo, na sequência, hino Africano, e Carruagens de Fogo, badaladas do sino as 5:30, canto do galo e disparo de canhão, e em menos de 3 minutos ultrapassamos a linha de largada, ainda escuro, e aí começou a Torre de Babel a se mover, impulsionados pelo clima festivo e ansiedade de depois de tantos treinos e quilometros treinados, tomar rumo a Durban, 89 km daquele disparo.
E aí passamos pelas mais diferentes paisagens e seus figurantes, que desde o início emolduravam a estrada e estimulavam os corredores, e assim foi, vento, sobe e desce, temperatura amena, até os 40 km o entorno de atletas já estava ficando conhecido, a partir daí, a dificuldade das difíceis subidas começava a se manifestar e as caminhadas de alguns se tornavam comuns e repetitivas, e nós a continuar, sabiamos que o conforto da caminhada era viciante e da dificuldade ao retomar o ritmo, então não paravamos, somente para abastecimento de água, carboidrato em gel, batatas, bananas, laranja e chocolate, que a cada 3 quilometros, a organização e as comunidades espetacularmente ofereciam, afora o afeto e gentileza no servir.
Após o quilometro 70, já depois de fazer uns 10 bons amigos, com os quais trocavamos posições, nós passávamos deles na subida e eles nos passavam nas descidas, duras e milhares de subidas e descidas, tinhamos que administrar músculos e cabeça, até que faltando 21 quilômetros de cima de uma colina, lá estava a visão da linha final em Durban, uma imagem, quase deprimente e motivadora, um local longe quase “inchegável”, mas aí foi retomar forças e ânimos e lá fomos nós, faltava só meia maratona, ora… e aí foi, até o momento em que adentramos no estádio lotado de pessoas a aplaudir e incentivar, a Comrades é um evento nacional e de muito orgulho para eles, e lá fomos cruzar a linha de chegada, lentamente pra curtir aquele momento que nos foi único.
Fizemos os oficiais 89,4 quilometros, que no nosso gps marcou 90,5 kms, em 9:38:58, sem dúvida um excelente tempo e que pelas estatísticas somente 40% conseguem completar a prova em sub-10hs, e nós pangarés, na verdade trabalhadores que tentam correr, conseguimos isto, mesmo sem ter a pretensão de fazê-lo.
Estamos a pesquisar quantos gaúchos fizeram, mas não temos conseguido muito informação, em Caxias foram 6, e podemos dizer que o Vist preparou os menos lentos, nóisssxxx, rsrsrsssss, mesmo sem nenhuma pretensão de fazer tempo e sim de terminar bem a prova, e o melhor, fizemos o que a corrida e espírito dela sugerem Comrades que quer dizer Camaradas, largamos e terminamos passo a passo, portanto empatamos no tempo da prova, talvez numa próxima desempatemos, mas os Macarunners não tem hoje o mais rápido numa Comrades, empate técnico, mas estamos muito satisfeitos de poder ter tido um excelente desempenho nesta prova ímpar no mundo das maratonas e ultra maratonas.
Enfim, o que podemos dizer é que é muito mais que uma corrida, é uma prova que te define e molda a um novo sentir, ver, pensar, uma experiência impar e a qual aconselhamos para quem puder e se permitir participar.
A alegria e receptividade deste povo tornou a prova mais fácil do que imaginávamos, apesar de ser algo dificílimo, lógico que o resultado foi fruto de 6 meses de planejamento e orientação do Daniel Vist, que nos moldou, e o que nos parecia dêmencia, se tornou em algo possível e tranquilo, o Vist matou a pau, treinou dois pangarés e fez com que os caras fizessem um tempo muito bom para as nossas expectativas e possibilidades.
Então, que agora é só alegria, e agora a vida volta ao normal e nós embarcamos nessa, ahhhh ía esquecendo, a África é demais, seu povo maravilhoso, e a infra-estrutura do País é de causar inveja ao nosso Brasil, acho que eles vão dar uma surra em nós na organização da copa.
Valeu pela força e tenham certeza que também tinha um time inteiro junto a correr conosco, que nos ajudaram a vencer mais esta, agora é guradar pilas pra NY, essa sim vai ser em turma, até o Iotti não vai escapar (se bem que ele quer morrer por não ter nos acompanhado nesta, mas…) e quem sabe Antartica 2014… e quem sabe… e quem sabe…
Saludos
Paquito Masiá / André de Martini