Aventura corrida no maior latifúndio do mundo
10/06/12 18:22Dou uma passada e quase caio na areia fofa, que um dia foi branca, mas está cinzenta, marronzada, toda junta e misturada por milhares de passadas de corredores que, mais rápidos, por ali passaram antes do que eu. Isso só torna mais difícil minha jornada, com o sol queimando no lombo e a mente toda dirigida para uma só direção: não posso torcer o pé.
Alguns metros antes, quase me tinha ido. Em vez de entrar na areia fofa com a parte da frente do pé, fui de chapa, e um pedaço mais firme de areia me desequilibrou. Senti o calcanhar rodar, o tornozelo dar um grito, eu mesmo sufoquei uma maldição, mas puxei o pé e segui firme. Quer dizer: tão firme quanto aquele terreno me permitia.
Deu tempo até para me perguntar: o que meus fisioterapeutas diriam se me vissem fazendo essas coisas, maltratando minhas pobres hérnias com quem tanto luto? Eu mesmo me pergunto: o que estou fazendo aqui, eu que sou do asfalto e da sombra? Aproveito para responder de bate-pronto: estou me divertindo muito, descobrindo mata e morro, praia e coqueiral, sombra e solaço. Estou na Bahia, meu rei, e aqui não há espaço para mimimimi, é só diversão, descanso e prazer.
Corrida também, por certo, mas o que é a corrida senão diversão, descanso e prazer? O evento tem o estranho nome multilingual de Running Daventura e se trata de um rol de corridas em terreno fora de estrada. Bem fora da estrada, meus senhores e minhas senhoras: é na Praia do Forte, uma das joias do litoral baiano, a cerca de uma hora de carro partindo do aeroporto de Salvador.
O lugarejo, bairro do município de Mata de São João, é afamado pelo mar quente –como em todo o nordeste, diga-se de passagem—e pelas piscinas naturais que se formam na maré baixa. Protegidos por arrecifes, os banhistas podem então se deleitar em centenas de metros quadrados de águas rasas e calmas.
Há quem nade, outros vestem o snorkel para apreciar a peixaria colorida ao longo das pedras, as crianças gritam e chapinham por tudo, adultos simplesmente apreciam os bares flutuantes –pedaços de isopor que servem de suporte a cervejas geladas, caipirinhas, caipiroscas e até um tira-gosto de camarão frito na hora.
Coisa de lorde, só pode.
A gente se sente como grão-senhor, tal e qual deveria ser a vida de um tal Garcia D`Ávila, nobre explorador dos idos de 1500 e caquerada. Pois foi dele o casarão, hoje em ruínas, que encima o morro Tatuapara, de onde olha toda a praia do Forte e arredores. Ali, do lado do casarão, chamado hoje Forte Garcia D`Ávila, Casa da Torre e outros tantos apelidos, fica a área da largada das provas do Running Daventura do meu sabadão praiano.
Das ruínas, dá para ver belezas sem conta, mas a gente, mais de mil corredores, não tem olhos para outra coisa senão nosso relógios, uma garrafinha d`água, o pórtico de largada… A prova está atrasada –e não venha ninguém me dizer que isso é coisa de baiano, porque fiquei por aqui uma semanas e quase tudo andou nos trinques, funcionando na horinha tal e qual combinado.
Logo a largada da corrida, que já era tarde, prevista para as 8h30 de sol forte, vermelho, assustador, atrasa. Com mais de meia hora tardia, saem as mulheres. Os homens temos de aguardar mais um tanto, o sol vai nos comer a todos.
Foi a única falha que vivi nessa prova. Estranhei, pois ultimamente as organizações têm respeitado a hora de largada –pelo menos, nas corridas em que participei. Não sei o quanto me prejudicou ou a todos os colegas corredores, mas sobrevivemos.
De qualquer forma, o horário inicialmente previsto já era muito tardio: cá na terra do sol, mesmo no inverno, tenho para mim que qualquer corrida deveria começar pelas seis da manhã, no máximo às sete. Eles devem ter suas razões, eu tenho as minhas: quanto mais cedo e menos quente, melhor para a saúde e para o desempenho do corredor. Se o sofrimento for menor, maior será a diversão.
Passou, azar!
A largada, como só poderia ser, é morro abaixo –afinal, estamos no ponto mais alto dessa área do litoral. Despencamos todos por um matinho, chão de terra, depois um pedaço de concreto, mais terra e estradão.
Só ali, depois de mais de 500 metros descendo quase em fila, todos meio ombro a ombro, é que começamos a mexer um pouco mais as pernas, para logo entrar num buraco de mata, à esquerda, embicando para mais descida protegida do sol e com chão delicioso, de terra batida, mas meio esponjosa, se é que me faço entender. Mesmo minhas passadas pesadas são amortecidas na terra generosa.
Tinha passado por ali dias antes, em um treino, e visto a placa que anunciava: floresta sustentável. Trata-se de um dos tantos –e muito bacanas—projetos ecológicos da região. Este busca recuperar a mata nativa e, ao longo do processo, ajudar agricultores da região, que contribuem para a defesa da mata e também conseguem fazer algum dinheiro com o trabalho.
Mas não vemos quase ninguém. As casas devem estar escondidas pelas dezenas de hectares de mata protegida. Nas trilhas largas, descemos até um posto de água que marca o início da volta para quem faz o trajeto de cinco quilômetros. É um percurso curto, mas desafiador, com uma subidona que pega quase toda a parte final.
Eu sigo em frente, vou fazer o trajeto de 14 quilômetros (há também provas de 8 km e 21 km). Na primeira curva, passo pela entrada de um camping, uma das poucas áreas com público. Em vez de aplaudir nosso esforço, um gaiato grita, apontando para mim: “Olha o náufrago!”
Que nada! Sei bem onde estou, no meio das centenas de hectares da reserva Sapiranga, um paraíso ecológico que tem caminhos de bromélias, cheiro de mata fresca e os limites definidos pela passagem do rio Pojuca –por ali, na temporada de cheia, suas águas calmas ficam endiabradas, metidas em corredeiras que tornam aventuresco um passeio de caiaque…
Aproveito para dizer que o rio Pojuca passa a fazer parte da história de minha vida: foi o primeiro rio que atravessei a nado, ida e volta. Está certo que eram pouco metros, lá na foz, no encontro com o marzão velho sem porteira, mas isso não diminui minha satisfação, pois as águas vinham fortes e eu, como nadador, talvez seja um bom jornalista… Consegui o feito, de qualquer forma, e fica registrado para a posteridade.
Talvez corram para o rio Pojuca, por sinal, os olhos d`água e riachinhos que atravessamos na mata. Em algumas passagens, há pontes de madeira, um tanto escorregadias; em um, porém, há que meter o pé na água e seguir morro acima.
O trajeto na mata dá cerca de seis quilômetros, sempre subindo e descendo, com pé no barro, em trilhas em que só passa uma pessoa ou em caminhos mais confortáveis. Apesar de protegido do sol, sinto muito calor, pois a umidade vai sufocando o corpo; o perfeito abastecimento de água, porém, ajuda a compensar, e também dou umas caminhadinhas de vez em quando.
CONTINUA….
Aparência horrível, barba imunda cabelo
nojento.Os leitores merecem mais respeito.
Antonio Melo,o senhor é casado com ele,estranho um ‘homem’ se preocupar com a aparência do outro homem!
O Rodolfo Lucena e gaúcho e nós temos orgulho de termos barbas e bigodes, se o caro amigo não sabe!
O Lucena e marca registrada nos eventos que participa no Brasil e no Mundo.
Caro Rodolfo eu também sou barbudo e gaúcho, me orgulho dela,não dê atenção para este sujeito.
Sr. Antonio Melo não te meta com os gaúchos!
Sugestão de próximo desafio é uma corrida aqui no RS num dia como hj, com zero graus…Parabéns, visitar seu blog é viciante como correr!