Réquiem para Caballo Blanco, lenda da ultramaratona
11/05/12 10:30Foi um problema cardíaco a causa da morte do ultramaratonista Micah True, conhecido como Caballo Blanco e considerado uma das lendas mundiais da modalidade. A trajetória do corredor, que vivia boa parte do ano com a tribo Tarahumara, índios corredores do México, é o coração do livro “Nascido para Correr”.
Como você já leu aqui neste blog, Caballo Blanco morreu durante um treino em trilhas pela floresta de Gila, no Novo México (EUA), no final de março. Ele saiu para correr e não voltou mais; seu corpo só foi encontrado vários dias depois, sem sinais de violência. Agora, a autópsia recém-divulgada revela que ele tinha cardiomiopatia, um problema que afeta a capacidade do coração de bombear sangue para o corpo.
No livro, por sinal, é relatado um episódio em que Caballo Blanco passa mal. Sua namorada, Maria Walton, disse que ele sofria de hipoglicemia, o que às vezes o deixava tonto, se ele não estivesse se alimentando adequadamente.
Mais importante do que saber a causa da morte desse apaixonado pelas corridas, porém, é lembrar sua vida. Ao longo de seus 58 anos, ele passou por poucas e boas (se você puder, confira a revista “O2” deste mês, em que escrevi um breve perfil desse ultramaratonista), mas acabou se transformando em um arauto da vida simples.
Para falar sobre Caballo Blanco, convidei um jovem ultramaratonista, JOSUE STEPHENS, que conheci pela internet. Organizador da ultramaratona Fuego y Agua, na Nicarágua, ele será o sucessor de Caballo Blanco à frente da organização da Copper Canyon Marathon, em Urique, México, onde vive a comunidade Tarahumara. Dito isso, segue o texto que STEPHENS mandou para nós, especial para este blog.
“Sou um ultracorredor de 31 anos de Austin, Texas. Criei e dirijo a Ultramaraton Fuego y Agua, uma ultra extrema, de caráter filantrópico, em uma ilha vulcânica da Nicaragua.
Filho de missionários, cresci no México e na America Central. Com 13 irmãos, em uma família que viajava como ciganos, experimentei muitas aventuras. Vivemos nas Barrancas del Coble (Copper Canyon) com os Tarahumara, na Guatemala e na Nicarágua nos períodos revolucionários, nas montanhas de Puebla, México, no litoral da Costa Rica e em muito outros lugares.
Cerca de seis anos atrás (com 25 anos), eu me tornei um ávido corredor de ultramaratonas, mas isso foi uma espécie de continuação de um treinamento que tive desde os 12 anos. Meu pai era um fanático por corridas e boa forma e sempre nos falava sobre procuramos sermos como a tribo dos Tarahumara, do México. Minha irmã e eu chegamos a treinar para participar, com ele, de uma corrida de 80 km.
Em 1993, ele nos mostrou um artigo sobre a ultramaratona Leadville Trail 100, de 160 km, que foi vencida por corredores Tarahumara. Alguns anos depois, comecei a ler sobre um homem estranho, mas apaixonante, que se chamava Caballo Blanco e vivia com os Tarahumara nas Barrancas del Coble. Em 1996, vi, no site caballoclanco.com, um artigo sobre aquela corrida de 1993.
Fiquei muito empolgado! Era aquela figura misteriosa, e ele estava organizando uma corrida nas Barrancas Del Coble com os Tarahumara. Imediatamente chamei minha irmã mais velha e disse a ela que devíamos treinar: estava entusiasmado para voltar às Barrancas Del Coble.
Passei a trocar e-mail com Caballo Blanco a respeito da prova de 2008. Ele foi muito simpático e disse estar disposto a me receber na ultramaratona, apesar de eu ser então um novato. Quando chegou o dia da prova, eu tinha feito até então apenas quatro ultramaratonas.
Depois de viajar de avião, trem, ônibus e até na carona de pick-ups, chegamos enfim às profundezas do cânion de Urique, um dos mais profundos das Barrancas Del Coble. Enquanto no topo dos cânions fazia frio, lá embaixo era quente, havia bananas e laranjas.
O encontro com Caballo Blanco foi quase como eu havia imaginado. Cabeludo e solitário, com uma cerveja na mão, em um bar vazio, ele foi muito simpático apesar de seu jeito pensativo e seu olhar distante.
Ele falava as coisas de forma muito direta e parecia determinado a alcançar o objetivo que tinha proposto a si mesmo. Conversamos bastante sobre suas aventuras e experiências nas Barrancas Del Coble.
Sua visão da vida era simples. Apesar de ter sido um bom corredor quando mais jovem, ele não era pretensioso nem ficava se achando o máximo. Corra porque você gosta e corra em liberdade –esses eram seus lemas.
Depois de vários dias de corridas, longas caminhadas pelas montanhas, natação e muita comida boa com um grupo de ultracorredores, finalmente chegou o dia da prova. Na largada, éramos 110 corredores, apenas 14 não Tarahumara. A corrida foi um dos momentos de maior euforia na minha vida: participar de um evento com corredores que viviam a vida de forma tão simples e tão apaixonada. Caballo Blanco a tudo observava sempre com um sorriso no rosto.
Depois da corrida, sentamos todos para jantar e conversamos sobre a prova. Percebi que Caballo Blanco havia criado alguma coisa muito especial nos cânions do México. Ele estava trazendo de volta à vida, recuperando a beleza da cultura corredora dos Tarahumara e tornando possível a outras pessoas compartilharem essa experiência profunda e cheia de significado.
Nós só pudemos viver aquele momento por causa de Caballo Blanco, porque ele era verdadeiramente apaixonado pelos Tarahumara e por seu estilo de vida. Eles simbolizavam liberdade e simplicidade, que Caballo Blanco sempre buscou.
Em poucas palavras, encontrar Caballo Blanco mudou minha vida. Nunca mais fui o mesmo depois daquela experiência nos cânions do México. Continuei me correspondendo com Caballo Blanco e passei algum tempo com ele no Colorado e no Texas depois que saiu o livro “Nascido para Correr”. Ele me deu conselhos sobre a criação de minha própria corrida, a Ultramaraton Fuego y Agua na Nicarágua, que eu projetei pensando na Copper Canyon Ultramarathon.
Caballo foi um homem simples, que via beleza nas coisas mais elementares da vida. Sua paixão era correr, não para competir, mas por causa da beleza e da simplicidade de movimentar-se pela natureza usando apenas a força do próprio corpo.
Ele não era muito ligado em formalidades: era o tipo de pessoa direta, que dizia o que pensava. E, apesar de ser superdedicado ao trabalho, ele também dava muito valor ao descanso e aos momentos de relax, com uma boa cerveja gelada e uma boa conversa.
Eu não acredito que ele temesse a morte. Ele sabia que sua jornada iria terminar em algum momento.
Quando seu corpo foi encontrado na floresta de Gila, no Nova México, seu rosto tinha uma expressão de paz. Ele estava em paz porque morreu fazendo o que amava. Que maneira melhor para esse guerreiro passar para o outro mundo?
Em tributo a Caballo Blanco, busque o que você ama na vida, seja verdadeiro consigo mesmo.
Descanse em paz, Caballo Blanco, meu amigo e companheiro de jornadas.”
Ainda mais convicta que estou no caminho certo. Ainda estou nos 5k e lembro da emoção da minha primeira corrida de rua. Quero chegar muito mais longe e sempre que posso compartilho com os amigos a sensação de liberdade que a corrida proporciona e incentivo-os a fazerem o mesmo. Obrigada Lucena pelo artigo, virei fã.
Depois desse artigo, fico ainda mais convicta da beleza da vida nas coisas simples, de como correr me faz bem. Sempre que posso conto a minha humilde escalada na corrida e convido os amigos para fazerem o mesmo, como é gostoso sentir-se livre e contar apenas com o corpo e a mente para alcançar os meus objetivos. Parabéns Lucena pelo artigo.
Obrigado a você, Catia. Aproveite a corrida e o bem-estar que ela nos traz.
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Belissimo texto.
Emocionante.
Muito bacana!!!
Acho que bebi café demais pela manhã. Eu juro pela sua barba que ví um automóvel amarelo escrito Lucena na coluna da porta do passageiro com placa de Mairiporã estacionado na rua onde moro. Seria o Lucena móvel é de sua propriedade?
Não, minhas posses são por demais limitadas. Não chegam a tanto.
para quem realmente incorporou o espírito e a filosofia das corridas de longas distancias no seu estilo de vida. impressionante relato. fantástico. esse sujeito merece ser o sucessor do Micah True.
Muito bom!
A história de Caballo Blanco é realmente inspiradora – não apenas para corredores – mas para aqueles que buscam as coisas simples da vida e não tem medo de viver fora dos padrões para ser feliz.
Viva el Caballo Blanco. Viveu uma vida plena, e com certeza cumpriu seu dever na terra.
Comovente! É como a vida deve ser, livre e feliz.