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Rodolfo Lucena

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Perfil Rodolfo Lucena é ultramaratonista e colunista do caderno "Equilíbrio" da Folha

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Médico quarentão estreia na maratona

Por Rodolfo Lucena
08/05/12 13:16

Cerca de 300 pessoas participaram, no último domingo, da maratona de Brasília, que passa pelos principais pontos turísticos da cidade –Catedral, Esplanada dos Ministérios, Congresso Nacional, Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes, Eixão Sul, Eixão Norte. A prova marcou o debute do leitor deste blog Paulo Henrique Ribeiro de Paiva, de 42 anos, na distância. A seguir, acompanhe o relato dessa pequena aventura de Paulo Henrique, que é médico hematologista e mora em Uberlândia (MG).

 “Nunca me dei bem em esportes coletivos, talvez um pouco por timidez e muito por falta de aptidão física mesmo. Sempre dei minhas corridinhas, mas sem pretensões. Depois a faculdade, pós-graduação, trabalho, filhos e  outras prioridades me fizeram ficar uns dezoito anos sedentário. Há uns cinco anos, não aguentei mais e comecei a me exercitar. O planejamento da maratona veio depois. Não sei o que faz os corredores sempre quererem algo mais difícil. Talvez a sensação de vencer obstáculos, ultrapassar seus limites, ou simplesmente o prazer de praticar a corrida.

“O treino exige disciplina. Tem que treinar diariamente, independente de sol, chuva, calor, frio, na rua, academia, durante viagens ou onde quer que seja. Todo corredor que se preza já se molhou todo, tropeçou e caiu, foi perseguido por cachorro, ouviu gritos de “maluco”, xingamentos de motoristas e outras coisas mais.

“O pior pesadelo são as lesões. Algumas simples (bolhas, unhas que caem, hematomas, calos, assaduras, insolação), outras nem tanto (tendinites, bursites, contraturas musculares, distensões, problemas articulares…). Quando ocorre uma lesão, perde-se às vezes um período de treino, uma prova importante e, principalmente, a animação e vontade de continuar. Alguns ficam pelo caminho, mas felizmente, a maioria dos corredores que conheço é persistente.

“Estava treinando para a maratona de São Paulo, quando fui convidado para correr a de Brasília. Como é uma cidade mais próxima à minha, uma prova menos movimentada, num relevo mais tranquilo (pensava eu), topei. Brasília é uma cidade aberta, cheia de verde, com seus lagos e, o que acho mais bonito, seus horizontes são bem visíveis. O pôr do sol, então… Demais!

“Os primeiros 10 km são tranquilos, bons para chegar ao ritmo de cruzeiro. Aproveitei para apreciar a paisagem, observar os corredores ao meu lado, escutar músicas. Pensei na minha filha mais nova, a Maria Fernanda. Lembrei do seu nascimento, da hemorragia durante o parto, que exigiu perícia do obstetra, de nos surpreender ao andar com menos de nove meses de idade, dos seus cabelos cacheados, da personalidade marcante, do carinho com que me brinda, e também da noite mal dormida no hotel, porque estranhou a cama e me deixou sem dormir na véspera da maratona.

“Dali até o km 20, já dá para ir melhorando o ritmo, mas senti uma fisgadinha na coxa, lembrança de contusão passada. Mas continuei tranquilo. Tentei puxar conversa, mas todos estavam compenetrados no ofício de correr. Que pena! Pensei muito na minha filha mais velha, a Juliana. A alegria no nascimento do primeiro filho, os micos gerados pela inexperiência de ser pai pela primeira vez, da sua beleza deslumbrante, olhos azuis, cabelos loiros naturalmente com mechas, da sua esperteza, da capacidade de fazer amigos e da profunda amizade entre nós dois, que me faz sentir novamente com oito anos.

“Do vigésimo ao trigésimo km, não vi paisagem nenhuma, desliguei o iPod, não tentei falar com ninguém. Aquela fisgadinha na coxa esquerda virou uma danada dor em ambas as coxas. Começou uma fisgada foi na coluna lombar. A preocupação com hidratação, isotônico, carboidrato em gel virou obsessão. Tentei me concentrar. Lembrei-me da minha esposa, a Silvana. Da dificuldade que foi conquistá-la, das aventuras que passamos juntos (quase 22 anos já), das dificuldades, conquistas, das filhas que me deu. Acho que todos passarão em minha vida, mas ela –creio– me acompanhará até a morte.

“Depois do trigésimo km, o bicho pega. Tentei me distrair, lembrei da minha infância, das dificuldades que passei e venci, faculdade, concursos, noites em claro, plantões. Mas as dores musculares atacam coxas, panturrilhas, costas, pescoço, até os braços.

“Cada km é uma vitória individual. Um a um, parecem intermináveis. O ritmo caiu de 5min30/km para uns 10min/km, nem sei direito. Parece que estou arrastando um pneu de caminhão amarrado em cada pé. Meus joelhos parecem levar uma martelada a cada passo, minha lombar parece que levou um chute do Anderson Silva e meus pés (ainda os tenho?) não os sinto mais. As câimbras na musculatura da coxa esquerda pioram.

“Eu paro, tento fazer alongamentos, molho com água gelada no próximo posto de hidratação. Mas uns 500m adiante, volta tudo de novo. Tento me convencer que vou conseguir. Tenho que conseguir. Já estou no km 36, não vou parar antes da chegada.

“Quando se chega ao km 40, só faltam 2, certo? Errado. Parece que faltam 200! Pode conferir: toda prova que se preza tem subida no final. Mas a cabeça já está melhor. Parece que vamos mesmo conseguir terminar. O corpo, surrado, começa a ficar leve.

“Pórtico de chegada adiante, vi minha esposa, minhas meninas, a cunhada, posei para fotos e abri os braços ao atravessá-lo! O som anuncia: “Parabéns ao Paulo por ter concluído a maratona”.

“O fato é que, ao contrário do soldado grego, eu também cheguei para contar e comemorar minha vitória…. mas VIVO!”

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Comentários

  1. Delcy Mac Cruz comentou em 11/05/12 at 10:36

    Paulo, parabéns. Faço minha estreia em maratonas em 03/06 em Porto Alegre, aos 49 anos e, acredito, psicologicamente pronto. Estou montando o blog corredor-de-rua justamente para não-profissionais, ou gente como a gente, discutir as corridas. O Rodolfo entra como fonte, tal sua qualificação

  2. janildo comentou em 10/05/12 at 12:50

    que cara masoquista. se tivesse treinado adequadamente não sofreria tanto. essa gente devia ter mais respeito pela maratona.

  3. Robson Medeiros comentou em 09/05/12 at 20:27

    Parabens Paulo! Primeiramente por ter completado a prova,eu que te acompanhei em parte da preparação sem o quanto vc se dedicou para que isto acontecesse,depois vc merece novamente parabens por ter feito este lindo relato e ter compartilhado ele com os amigos,que este possa servir de inspiração para muitas pessoas.
    Abraço.
    Felicidades

  4. Neusa Ribeiro de Alvarenga comentou em 09/05/12 at 13:44

    Parabéns, Paulo Henrique. Estamos felizes com sua vitória; afinal, vencer desafios é o seu maior troféu. Vá em frente e continuaremos tendo o maior orgulho de um Ribeiro atleta. Abraço p vc e td sua família. Com carinho, Neusa e família.

  5. IURI LARA comentou em 09/05/12 at 7:11

    Parabens Dr. Paulo Henrique, meu grande amigo que na infância era chamado carinhosamente de Minhoca. Estou muito feliz pela conquista e sei o que representa para vc.
    Um grande abraço e sucesso sempre para vc e sua bela familia

  6. Augusto comentou em 08/05/12 at 18:24

    Parabéns, Paulo! Correr 42km na minha opinião é só pra quem tem mta raça msm! Com 8 meses de corrida eu fiz minha primeira Meia, e agora em Maio vou correr minha 2a. Mas 42km eu admiro demaaais quem completa! Abc!

  7. Mariza Matheus comentou em 08/05/12 at 17:05

    Adorei esse relato!
    Também sou médica em Uberlândia e estava no sedentarismo (culpando a carreira e falta de tempo é claro hehehe) quando decidi mudar. Em janeiro deste ano comecei um programa para correr. No dia 22 do mês passado corri minha primeira corrida da Mizuno (4km) e me senti uma vitoriosa! Não fui nada rápida, mas não fiquei na lanterna tb rsrsrs.
    Neste final de semana estarei na corrida da Caixa em Uberlândia e vamos que vamos!
    Abraços a todos,

    Mariza

  8. Bacamarte comentou em 08/05/12 at 16:11

    Parabéns ao Paulo Henrique. Também completei minha primeira maratona. O fiz com 58 anos, depois de 2,5 anos de corridas menores: 5, 10 16 (10 milhas) e muitas 1/2 Maratonas. No domingo, dia 29/05, completei os 42Km125m em 4h50min. Os primeiros 21Kms em 2h5min. O que me levou a crer que poderia finalizar em 4h20min. Engano. No 34º km aconteceu comigo o mesmo que ocorreu com o Paulo. As pernas começaram a pesar 1 tonelada. E a temperatura que prometia ser amena, beirava os 30º . Entretanto, valeu a pena cada passada.
    O que não valeu foi a desorganização da prova em relação à cronometragem e ao abastecimento de água depois dos 30km> Quanto à cronometragem, alguns nem mesmo completaram a prova mas tiveram seus tempos computados. Sei disso porque um colega meu de corridas, contundido na coxa esquerda, “finalizou” em 28 kms, contornando a linha de chegada na Pça da Estação e teve seu tempo computado como tendo concluído a Maratona. Vi e constatei que outros corredores que encurtaram a distância também tiveram seus tempos confirmados como tendo percorrido a distância completa.
    Por essa razão, não correrei mas a Maratona da Linha Verde.
    Certamente correrei outras no futuro. Mas nuca mais de duas por ano. Acho que esse é um limite que devo adotar, embora tenha me tornado um “viciado” em corridas longas.

  9. Antonio Ap P Pereira comentou em 08/05/12 at 15:50

    Incrivel Relato, muito legal…. acho que é por conta que estou me identificando com o Dr Paulo Henrique…. tenho 42 anos e 17/6 tambem estarei estreando na Maratona, no caso a de SP. Felicitações de um Corredor para outro para o Dr Paulo e mais felicitações para o outro Dr …. o Lucena.

  10. gustavo giroti comentou em 08/05/12 at 15:16

    que legal, o lado pessoal mentalizado é uma constante, muito bonito o relato e as lembranças, quem dera eu um dia for para uma maratona! Parabens!

    ….veja a barreira dos 30 km!

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