Campeã da São Silvestre vai à maratona olímpica
26/04/12 10:24Você se lembra da Priscah Jeptoo? Abaixo de um aguaceiro, subiu e desceu as rampas do novo percurso da São Silvestre, foi perseguida por uma etíope e mostrou que é boa de chegada. Só não teve passadas elegantes: na minha opinião é uma das corredoras de elite com estilo mais estranho.
Acho até que fisioterapeutas e especialistas em biomecânica, se soubessem dela apenas pela descrição de seu estilo, duvidariam de sua capacidade de correr rápido e de manter a velocidade. Seus joelhos se aproximam a cada passada, enquanto as pernas abrem para os lados, espanando o ar.
Pois ela é de fé cega e faca amolada; acaba de ter ótimo desempenho na maratona de Londres e foi anunciada como a terceira integrante da equipe feminina do Quênia que vai disputar a maratona olímpica. As outras duas são Edna Kiplagat, campeã mundial, e Mary Keitany, que deu um show em Londres no último domingo, registrando o melhor tempo do ano.
No masculino, a seleção anunciada pode deixar muita gente de boca aberta. Não estão nela o recordista mundial da maratona, Patrick Makau, nem o maratonista mais rápido do mundo, Geoffrei Mutai (o tempo dele foi em Boston, que não conta para recorde).
“Selecionamos os atletas com base em seu desempenho nas últimas grandes maratonas em que participaram. Também demos ênfase à experiência”, disse o presidente da federação de atletismo do Quênia, Isaiah Kiplagat.
Com esse critério, o cabeça do time é Wilson Kipsang, que, de fato, é o maratonista de elite que está no seu melhor momento atualmente. Ficou a quatro segundos do recorde mundial no ano passado e mostrou agora, em Londres, que também é capaz de correr para ganhar.
Os outros dois também são o puro creme do milho. Moses Mosop é o segundo homem mais rápido do planeta (perdeu para Mutai em Boston em 2011) e vem se dando bem em provas de circuito referendado pela IAAF. E Abel Kirui é bicampeão mundial da maratona.
É pouco ou quer mais? Você deixaria de fora um recordista mundial?
Antes de responder, lembre-se de que ele abandonou a prova de Londres alegadamente por causa de uma lesão.
Que não é séria, segundo seus agentes. A empresa Possosports emitiu nota cumprimentando os atletas escolhidos e lamentando o fato de Makau não ter sido selecionado. Afirma que a lesão não é séria, que se trata de um caso de leve irritação do ciático.
A nota afirma que Makau vai voltar aos treinos nos próximo dias. E que pretende “continuar a desafiar os limites humanos na maratona e a honrar a bandeira do Quênia”.
Lucena,
super lista esta do Quênia. Espanto e admiração. Afinal, os manda-chuvas é que fazem a garimpagem final. Por aqui, fiquei contente com os três do masculino.
Uma observação para a frase :
“Acho até que fisioterapeutas e especialistas em biomecânica, se soubessem dela apenas pela descrição de seu estilo, duvidariam de sua capacidade de correr rápido e de manter a velocidade.”
Quase sempre, sou duramente criticado quando falo de técnica de corridas. Outro dia, num fórum de triatletas, fui praticamente jogado no paredão. Tudo porque comentei da técnica de corrida sobre dois grandes triatletas num vídeo postado do youtube (e bem antigo).
Esta discussão é bastante séria nos meios mais específicos de esportes onde avalia o meio de locomoção (nado, bike, corrida). Certa vez, o próprio técnico da Paula Radcliffe comentou que não ajudaria muito interferir na biomecânica da atleta (que corre torta, faz caretas, mas é formidável e sou grande admirador dela).
Quando alertamos para a melhor biomecânica, não estamos criticando o estereótipo do corredor. E, muitas vezes, isto afeta o ego daquele que sabe que tem algum dado não coerente (braços, pernas, pisadas, balançar da cabeça, tombar prum lado, etc etc etc). Mas o que seria este coerente ? Se por um lado, um professor com título de mestrado me mandou ficar quieto no banquinho do bate-papo/fórum porque levantei a questão da biomecânica (e a tese do senhor é sobre suplementos e nada relacionado a técnica), eu atendi à altura. Porém, continuei batendo na questão da técnica, da biomecânica, da eficiência dos movimentos. É notório que todo mundo que faz esportes de longa duração (e não é só triatletas que sofrem), no final tem desgastes, tem câimbras (alguns), tem fadiga. Porém, a técnica independe da velocidade que está imprimindo. Pode-se trotar com técnica, até marcha atlética. Apesar que seria muito engraçado num dado momento um maratonista ou triatleta resolver finalizar os últimos KM numa marcha atlética porque não consegue mais levantar os joelhos tanto como se estivesse correndo muito rápido. Nada contra marcha atlética, até porque muitos são mais rápidos marchando que outros correndo.
A observação com relação à técnica de corrida, pela abordagem da biomecânica (diferentemente de estilo), é um dever de todo treinador ensinar. Se o atleta não recebe ou não quer, cabe a ele avaliar. Porém, acredito eu que todo mundo sai ganhando. Afinal, aprender a correr não é apenas receber uma planilha com cálculos e sair executando.
Abraços,
Humberto.
Daria tempo de naturalizar o Makau aqui?!