Ex-etíope treina para Londres em túnel na Noruega
29/03/12 15:05Ex-etíope treina para Londres em subterrâneo na Noruega
O título desta história talvez o tenha deixado confuso. A história é complicada mesmo, mas eu resumo rapidinho e depois já dou os detalhes.
Um corredor da Etiópia fugiu do país, há alguns anos, alegando razões políticas. Conseguiu refúgio na Noruega e agora é cidadão do país, onde trabalha como zelador. Nas horas vagas, treina para a maratona olímpica. Durante o escuro e gelado inverno do país, ficou rodando em um túnel de cerca de 2 km, por onde passam as redes de água e esgoto da pequena cidade onde mora.
Agora vamos aos detalhes, que a história é saborosa.
O nome de nosso herói é Urige Buta, hoje norueguês, mas natural da Etiópia, pátria de Haile Gebrselassie e do herói olímpico Abebe Bikila, que conquistou o ouro na maratona olímpica em Roma-1960 correndo descalço. O país também sofre com disputas políticas que às vezes ganham caráter violento.
Buta fugiu do país em 2003, depois que seu pai foi preso por ter apoiado o lado perdedor em disputas políticas locais. Ajudado por contrabandistas de gente, acabou na Noruega, onde conseguiu asilo político.
Ficou por vários anos em um campo de refugiados, até que sua forma física chamou a atenção de um representante da federação nacional de atletismo. Contatos foram feitos, e Buta, hoje com 33 anos, acabou na mão do treinador Erling Askeland, um veterano com 30 anos de trabalho dedicados ao atletismo.
Com ele, foi treinar no clube de atletismo da pequena cidade de Haugesund (30 mil habitantes), onde vive agora. Em dois anos, tornou-se o melhor corredor do país, mas não podia representar a Noruega por causa de seu status de refugiado.
Ao mesmo tempo, por causa de seu trabalho de oito horas por dia, de segunda a sexta, não conseguia participar de grandes corridas. O critério para escolha de maratonas era: provas em que ele pudesse correr e voltar para casa ainda na noite de domingo. Afinal, segunda de manhã era dia de limpar o chão e lavar escadas no escritório onde trabalha.
Mesmo assim, treinando de madrugada e nos intervalos do trabalho, conseguiu o recorde pessoal de 2h09, o que é cerca de um minuto mais rápido do que o recorde nacional de seu novo país –no ano passado, ele finalmente conseguiu a cidadania norueguesa e deve representar a nova pátria nos Jogos de Londres-2012.
Ele sabe que é quase impossível uma medalha, mas espera ficar entre os 12 melhores. E, quem sabe, chegar ao pódio no próximo Europeu de atletismo.
Para isso, não deixou de treinar mesmo durante o longo, escuro e gelado inverno europeu. Até alguns dias atrás, fazia suas rodagens em um túnel de cerca de 2 km usado para serviços de manutenção das redes de água e esgoto da cidade. Agora, com a chegada da primavera, aos poucos volta à superfície.
Sobre suas dificuldades para treinar, filosofa à la Rolling Stones: “Nem sempre você pode ter tudo o que quer”. E emenda: “Mesmo quando seu corpo está cansado, sua mente pode ser forte”. Fortaleza que vem da esperança de tornar realidade o sonho olímpico de um refugiado político.
Este é o cara. isto é detereminação e vontade. Boa sorte pra ele.