Corridas de rua prejudicam crescimento na pista, diz presidente eleito da CBAt
22/02/12 06:22Um dos problemas do atletismo brasileiro é o fato de que as corridas de rua “hoje não contribuem em nada para a formação de atletas de pista”, avalia José Antonio Martins Fernandes, 53, presidente eleito para dirigir a Confederação Brasileira de Atletismo no período 2013/2016.
Toninho, como é conhecido, trabalha com o mundo do esporte desde a adolescência. No ano 2000, assumiu a presidência da Federação Paulista de Atletismo e, agora, se prepara para dirigir a entidade nacional. Haverá um período de transição, me disse ele, que foi eleito em assembléia realizada no início deste mês. Será preciso, por exemplo, transferir a direção da entidade, que hoje opera a partir de Manaus, para São Paulo, e isso demanda um tempo.
O que não significa que ele vai ficar parado, segundo me disse em entrevista em que conversamos sobre sua visão do atletismo brasileiro e seus planos para o futuro.
Para alguns problemas, o dirigente não vê uma resposta imediata. A questão da dicotomia rua-pista é um deles. Veja o que ele diz:
“Há uma proliferação de corridas de rua e isso tem aspectos positivos e negativos. O fator positivo é que o esporte está alcançando a população. Corridas e caminhadas, de forma geral, estimulam a prática de atividade física entre a população, o que é extremamente positivo. Do ponto de vista atlético, você não acrescenta nada, da elite dos corredores de rua para a elite dos corredores de pista. Quem corre bem na pista vai bem nas provas de rua, e o contrário não é verdade. Como você tem hoje uma gama muito grande de provas de rua, que distribuem uma premiação razoável, os atletas vão atrás dessa premiação, não estão preocupados mais com o treinamento de pista. O resultado é que não há crescimento do número de corredores nas provas de pista. Pelo contrário. Isso não é bom. A gente não sabe, ainda, como atingir diretamente esse ponto.”
Os questionamentos do dirigente brasileiro são ecoados mesmo em territórios muito mais ricos. Analistas esportivos dos Estados Unidos já perceberam que, também lá, as corridas de rua e, especialmente, as maratonas, estão “roubando” atletas das pistas e “reduzindo” a velocidade dos corredores norte-americanos.
“Indo às ruas, especialmente antes dos 25 anos, esses corredores estão virando a página no esforço para ficarem mais rápidos”, escreve Kelvin Selby (leia o texto AQUI, em inglês).
Ele argumenta, aliás, que o mesmo está acontecendo em âmbito internacional, com jovens quenianos (e de outros países) deixando de fazer o necessário desenvolvimento em pista para irem buscar a grana que a maratona oferece.
Eles não estão errados, considerando as regras do mundo em que vivemos e o domínio do pragmatismo. Afinal, como diz Selby: “Ficar entre os dez primeiros em uma maratona paga uma tonelada de dinheiro a mais do que uma colocação similar em prova de pista”.
Tal como o dirigente brasileiro, o analista norte-americano não se arrisca a propor saídas. Será que o mercado vai resolver isso?
Independentemente disso, a grande questão, porém, na opinião de Fernandes, é a necessidade de formulação de uma política de governo que apóie o desenvolvimento do esporte de base, como ele disse na entrevista publicada hoje no Esporte da Folha (AQUI, para assinantes da Folha e/ou do UOL).
“Acho que o sistema da educação física do Brasil está falho. Basta conversar com os dirigentes nacionais e com a escola. Se você quiser formar uma equipe olímpica, começa na escola. E não é do dia para a noite. Isso demora anos e anos. Então a gente precisa começar uma hora. E a gente ainda não tem esse pessoal formado. A gente precisa ainda evoluir muito nisso. Estamos ainda muito longe do ideal.”
A proposta da CBAt, que o dirigente vai discutir com outras entidades e pretende levar ao ministro da Educação, é disseminar nas escolas o miniatletismo, versão do atletismo adaptada ás condições escolares. Fernandes argumenta: “Nós vamos fazer uma Olimpíada e temos de melhorar muito a educação física nas escolas. Nada melhor do que fazer isso através do atletismo, que é um esporte base, que representa topos os outros esportes. Não é utópico, não é nada do outro mundo, e poderia dar um avanço muito rápido à educação física no Brasil”.
Em primeiro lugar é preciso observar que a maratona também é uma prova olímpica e genuinamente de rua. Que nesta prova o Brasil tem um Herói Olímpico (Vanderlei) e que o Marilson é candidato à medalha em qualquer grande maratona. Na Olimpíada também será. O desenvolvimento de maratonistas passa necessariamente pelas provas de rua de 10k, meias, etc.
As outras provas que poderiam estar perdendo atletas para a rua são os 5mil 10mil metros rasos. Até questiono o caso dos 5mil. De qualquer forma o nosso país não tem um corredor olímpico nestas distâncias há muito tempo.
Estamos perdendo a capacidade de revelar bons fundistas mais pela atuação irregular de estrangeiros do que pelo excesso de corridas de rua. Meus atletas que já poderiam beliscar alguma coisa nas corridas acabam desestimulados, pois a cada três meses há uma leva nova de africanos no Brasil. Aqui na minha região até premio de faixa etária eles pegam….
Mas, vejo três grandes pontos que poderiam ser observados:
1 -A CBAt tem um programa de apoio ao corredor de rua, isto é ótimo. Porém são 33 provas que valem para somar pontos! Ou mais. Ou seja, o corredor que quiser se dar bem terá obrigatoriamente que correr o maior número possível de provas. Resultado: não é possível desenvolver qualidade. Deveria ser como a IAAF faz com os GP’s de cross: somente valem as 4 melhores provas e há um descarte nas demais. Com isto os atletas acabariam priorizando a qualidade e não precisariam se matar nas provas do circuito Caixa.
2 – Estou no mundo do atletismo a uns 26 anos(!) e tem muito professor bom Brasil a fora produzindo atleta. Sei de muitos projetos bons de revelação de atletas. Só que tem um problema: quando surgem bons atletas, estes, por falta de recursos na origem acabem indo para o que alguns chamam de “centros de rendimento”. Falo sem medo de errar – a CBAt deveria fiscalizar melhor certos clubes que “compram” jovens atletas a peso de ouro e depois acabam com a carreira destes atletas. Já vi isto acontecer demais. Tem muito treinador nestes grandes centros que se acha o tal, mas já detonou muita criançada por aí. A CBAt pode facilmente identificar isto.
3 – Os programas que a CBAt tem para atletas de alto rendimento. Será que aqueles atletas que obtiveram destaque internacional ainda precisam de ajuda da CBAt? Sinceramente, será que o Marilson e a Mauren precisam de uma bolsa de milhares de reias da CBAt? Será que já não tem patrocinadores particulares pagando o suficiente? Por que não investir mais bolsas para jovens que estão em momento crítico, como os bem colocados nos rankings e sem clubes?
Rodolfo me desculpe mais o que a CBAT faz pelos corredores de rua, não fazem praticamente nada só alguns são priveligiados, ano passado a CBAT esteve presente na Ultra dos Fuzileiros aqui no Rio e disse que iria levar este ano para o Mundial de Ultras os 5 primeiros Ultras até agora não sabemos de nada como que ela se diz prejudicada se não investe mais nos corredores…Eu conheço vários bons atletas homens e mulheres que arrebentam na pista e não tem patrocinio…É brincadeira isso né…O problema disso tudo que nós somos brasileiros e nascemos no país do Futebol em que milhões são gastos e com atletismo nada…Valeuuu…
Um abraço,
Jorge Cerqueira
http://www.jmaratona.com
Li seu artigo publicado hoje na Folha. Diga ao novo presidente da CBAT que será muito difícil implantar o atletismo nas aulas de educação física, por dois motivos. Primeiro os atuais graduados não são formados para ensinar esporte nas aulas, estão sendo formados para trabalhar em academia, cuidar da saúde. Segundo haverá a necessidade de mudança nos currículos das faculdades e no documento chamado PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS, onde as aulas são dirigidas para a recreação, OU SEJA, não é na escola onde se aprende esporte, segundo alguns filósofos. Vai comprar um briga com o presidente nacional de Conselhos de Educação Física. Outro problema e a falta de locais onde os diagnosticados com potencial possam aprimorar seus dotes esportivos. Gostaria de passar as suas mãos alguns de meus trabalhos sobre o atletismo, pode-me enviar seu endereço de correio. O jornalista José Cruz pode informá-lo sobre os meus estudos.
Lucena,
Descobriram a pólvora.
como comentei no post lá no facebook, o problema é que muitos atletas se não correrem nas provas de rua morrem de fome esperando por uma ajuda da confederação. Infelizmente ainda são poucos os atletas de pista no Brasil que podem viver só do atletismo e serem chamados de profissionais. a maioria ainda tem que dividir o tempo entre treinamento e trabalho, apesar das condições já terem melhorado bastante se compararmos com um passado não tão distante, graças aos patrocínios privados, principalmente.